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11.6
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127
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Quando eu fui para Brasília em sessenta e nove
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foi
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Aí eu o caba não sabendo se tinha recebido, aí eles mandavam uma de volta.
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Aí quando ia chegar, a primeira que tinha vindo, já tinha passado um mês, a outra um mês e tanto.
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Aí era uma dificuldade medonha.
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Aí era assim, fazia, botava no correio, esperava a resposta de outra carta, vindo de lá para cá.
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Aí eles recebiam aqui, veia como era que a pessoa estava, fazia aquele...
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Aí fazia uma carta e mandava para trás.
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Mas demorava demais, ave?
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Não, caro não era.
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Pedaço de papel, para fazer uma carta, não é caro.
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envelope também nunca foi caro.
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eu passei o ano de setenta lá
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Não, isso aí, botava no correio e a minchariazinha pagava.
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Agora o que eu achava mais ruim naquele lugar, que eu fiz muita aventura, foi ganhar pouco.
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Eu não sei, aquele devia ser o que? O salário que a gente ganhava.
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Não sei quanto era o salário, ninguém falava em salário naquele tempo.
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Falava em pagamento era.
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Mas era pouco, o pagamento era pouco.
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Eu lembro que uma passagem para São Paulo era sessenta e poucos reais.
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Eu não sei que dinheiro era aquele também não
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O cruzado veio já muito na frente, antes do real.
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Aí ganhava pouco, mas eu me aguentava.
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setenta, setenta e um, vim embora já no começo de setenta e dois
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Era o sacrifício para segurar o gadinho que tinha.
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Papai ia buscar a caiga de capim seco.
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Buscar a caiga de capim seco.
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Mas na Serra do Montserrat, não sei onde, para comer.
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Eu não era assim, não comia.
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Na hora que chegar, eles caíam em cima comendo
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Eles índia era caro.
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Era difícil, mas sim.
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Mas não dava certo para rendar, não.
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Não tinha dinheiro, não, para comprar não
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Aí eu mandei, durante esse tempo lá, eu mandei, eu era muito ruim para escrever, ainda hoje sou...
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Em cinquenta e oito, olhe setenta, e setenta eu tava em Brasília, não sei.
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Em 1958 eu estava em casa.
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Nós, Eu era de menor.
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Em cinquenta e oito eu tinha, quarenta e nove para cinquenta e oito
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Aí eu vinha vender lenha para Lussoia, tangendo os burros, de pés.
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Aí vendia a lenha.
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Eu lembro que eu quase não alcançava em cima do burro.
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Vinha sozinho.
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Dois, três, quatro.
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Andava com a caiga, vinha a pés.
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Eu estudei pouco, aí minha letra é horrível, mas eu sabia que escrevia uma carta, a letra ficava meio feia, mas dava.
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tudo manso, quase todos os dias.
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Dia sim, dia não.
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No que a gente chegava lá, tinha que tirar lenha de novo.
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Saía de casa de madrugada.
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Era longe e burro anda devagar.
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quatorze quilômetros.
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Ei, a gente saía de casa de madrugada.
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Antes do sol sair muito, escuro ainda.
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As vezes Miguel, um primo meu, morava mais embaixo, vinha também.
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Aí eu vinha com três, ele vinha com duas.
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Aí eu fazia, eu devo ter feito umas quatro durante esse tempo todo.
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Aí eu vinha chegar lá, ele já estava com as caigas dele prontas também.
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Eu só era tocar na estrada ir embora.
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Não tinha fogão à gás não para cozinhar.
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Os homens tavam todos lá nas estadas, trabalhando.
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Serviço de emergência.
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Aí só tinha quase mulheres na cidade.
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Não tinha homem não.
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tudo trabalhando no meio do mundo e as mulheres sozinhas em casa.
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Tinha delas que comprava lenha e ajudava a gente a tirar.
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Daí eles iam trabalhar para ganhar alguma coisa para sobreviver.
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Aí botava no correio, aí bichinho demorava, demorava, demorava, ninguém sabia notícia de ninguém não.
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E elas ficavam em casa cuidando da casa.
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Ele não era perto, eles vinha.
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Ele não tinha recebido dinheiro não.
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Recebia, como era?
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Recebia mantimento, que dizia, né?
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Arroz, feijão.
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Era, não tinha dinheiro não.
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Aí, parece que aqui acolá tinha uns pagamentinhos em dinheiro, vish
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Povo ficava animado quando tinha um dinheirinho ali.
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Povo ficava morto e alegre.
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Sabia, nem se tava vivo por aí.
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Difficuldade maior do mundo.
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Eu vendia a lenha de vinte reais a carga.
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Eu lembro de não sei o que lá.
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Não sei o que era que tinha lá.
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Eu sei que era vinte e a três cargas era sessenta reais
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sessenta não sei o que.
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Aí eu ia comprar.
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Aí a mamãe mandava eu comprar.
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Café, açúcar.
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Às vezes eu comprava café, açúcar, rapadura, farinha.
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Sabia não. As vezes saber se a carta tinha chegado, quando eles mandavam outra de volta.
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Não, farinha papai comprava de...de...
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Nas serras, comprava de
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Café, açúcar e rapadura
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Gostava de comprar.
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Mamãe dizia, compre da mais barata que tiver.
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Aí comprava a rapadura da mais barato.
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A bicha era preta que nem o cão.
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comer.
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Comia mesmo rapadura.
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Ela é igual ao seu sombota cor.
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